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Artes Visuais

ALMIR BINDILATTI FOTOGRAFA FAZENDO POESIAS

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O fotógrafo Almir Bindilatti é natural de Tupã, cidade que dista cerca de quinhentos quilômetros da capital paulista, e conhecida por integrar a Alta Paulista região agrícola onde nasceu em oito de julho de 1960.Vem de uma família de artesãos. Seu pai Dorival Bendilatti era marceneiro e sua mãe Elvira Vieira Bindilatti costureira. Junto com mais dois irmãos seu pai fundou uma marcenaria que se desenvolveu e se transformou numa próspera indústria de móveis a Fábrica de Móveis Paulista e depois mudou o nome para Fábrica de Móveis Irmãos Bindilatti. Este dom de trabalhar com madeiras foi herdado do seu avô, que transmitiu para seu pai e os três tios. Além de fotografar o Almir Bindilatti gosta de escrever poemas e pequenos textos que publica nas redes sociais acompanhando suas fotos. Todas as fotos que faz e publica têm um título com uma pegada poética. Portanto, hoje vamos conhecer um pouco deste fotógrafo que vem desenvolvendo uma produção de fotos artísticas e diferenciadas especialmente em preto e branco. Por muitos anos trabalhou em Salvador fotografando para as agências de publicidade e garanto que muitos de vocês já viram alguma foto aérea que ele tirava da Cidade do Salvador e de outros locais o que na época era uma verdadeira epopeia. O fotógrafo pegava um avião monomotor com a porta aberta e se amarrava com cintos de segurança, colocava as pernas para fora e assim o piloto ficava indo e voltando em voos baixos, quase rasantes para ele fotografar. Almir Bindilatti e outros colegas também usavam helicópteros quando o cliente tinha mais condições financeiras e o projeto era de grande porte, porque os voos de helicópteros eram mais caros. Hoje os drones de alta tecnologia fazem este trabalho com menores riscos, menos custos e até mesmo com melhor qualidade, a depender do equipamento, da capacidade e sensibilidade do fotógrafo que o manipula.

Campo de futebol em plena floresta perto de Recife. Esta foto foi premiada.


O Almir Bindilatti trabalhou muitos anos para a construtora Odebrecht onde fotografava as obras que a empresa fazia aqui, em outros estados e até fora do Brasil. Também para os livros de arte e do patrimônio histórico que a empresa editava e distribuía entre seus clientes, instituições, autoridades e amigos. Os livros editados pela Odebrecht eram verdadeiros documentos, uns “tijolões” como se diz uma conversa mais íntima, basta dizer que o editado sobre o Convento de São Bento de Salvador pesa cerca de cinco quilos! Recebi alguns deles inclusive uns escritos pelo professor Clarival Prado Valadares, o qual o conheci quando participamos de grupos jurados de alguns salões de arte aqui realizados. Essas publicações portentosas são verdadeiras raridades bibliográficas e documentos que devem ser preservados para servir de consulta a estudiosos e historiadores. Hoje o Bindilatti tem uma grande produção fotográfica e é considerado um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, já tendo produzido durante sua trajetória profissional imagens de alta qualidade para empresas e editoras destacando-se fotos para revistas, relatórios corporativos e livros de arte.

Vaqueiros no município de Acari , Rio Grande do Norte.

Trajetória


OAlmir Bindilatti estudou o primário no Grupo Escolar Bartira e depois foi fazer o segundo grau no Instituto Estadual Índia Vanuire. Em sua cidade natal Tupã quase tudo recebe um nome indígena. Sua família era de origem humilde, mas com a união dos irmãos a simples marcenaria se transformou numa próspera indústria de móveis e passaram a ter uma vida mais confortável. Porém, não durou muito. Anos depois ele e seus irmãos tiveram que trabalhar porque a indústria de seu pai e tios foi à falência. Vocês sabem que o país tem enfrentado anos a fio de altos e baixos na nossa economia, inclusive com a inflação alcançando altos patamares levando a população ao empobrecimento e milhares de empresas à falência, e em consequência deixando milhões de trabalhadores desempregados. Não chegou a concluir o colegial em Tupã. Diante deste quadro de dificuldades ele e seus quatro irmãos tiveram que procurar ganhar algum dinheiro. Em Tupã tinha uma empresa de fotografia chamada de Hirano de propiedade de um japonês que fazia álbuns de bailes de debutantes, casamentos e formaturas em todo o Brasil. O slogan era Tupã – A Capital Nacional da Fotografia. A empresa dava um curso ao fotógrafo que pretendia ingressar e em seguida o contratava. Eram muitos jovens fotógrafos e assim Almir Bindilatti iniciou profissionalmente a sua carreira viajando por este Brasil afora para fotografar debutantes, casamentos e formandos nas universidades. Começou a viajar muito cedo e lembra que a empresa tinha uma grande estrutura avião, ônibus e uma frota de carros.

Meninos brincando de carrinho


A primeira vez que ele pisou em Salvador foi numa viagem que fez num monomotor com mais outros colegas para fotografar uns formandos da Universidade Federal da Bahia. Ficou uns oito dias porque além da solenidade eles foram fotografar o tradicional baile de formatura. De posse deste material voltaram para Tupã com os filmes que depois foram revelados e as fotos selecionadas. Aí entraram em campo os vendedores que vieram à Salvador para vender os álbuns aos novos bacharéis. Esta sua permanência na Hirano lhe proporcionou aprender a revelar filmes, copiar e ampliar fotos. Ficou um ano e meio na empresa e conheceu muitas capitais e cidades do interior. Enquanto isto seu pai tentou abrir uma empresa de despachante de automóveis, mas ele não tinha expertise e não deu certo. Terminou seus pais se mudando para o Mato Grosso do Sul onde um tio tinha uma pequena fábrica de móveis na cidade de Nova Andradina. Finalmente o Almir Bindilatti saiu da Hirano e foi para São Paulo e lá vendeu assinaturas de revistas, aplicou questionários de pesquisas, etc. Foi trabalhar no laboratório da Agência F4 considerada a primeira agência de fotografias jornalísticas do Brasil. Esta agência cobriu no final da década de 70 e nos anos 80 os principais movimentos políticos e sociais. Seus fundadores foram Nair Benedicto, Ricardo Malta, Delfim e seu irmão Juca Martins , que são nomes importantes da fotojornalismo brasileiro. Era uma cooperativa de fotógrafos fundada em 1979 nos moldes da agência francesa Magnum,contou com vários colaboradores e encerrou suas atividades em 1991.

Monges beneditinos orando, Salvador-Ba


Quando saiu da Agência F4 estava andando na rua em São Paulo e reencontrou um amigo seu que estava trabalhando num Studio de fotografia publicitária no bairro de Santa Cecília. Conhecedor de sua história na Hirano perguntou se não queria ser seu assistente. Imediatamente aceitou e aí que descobriu que a fotografia seria a base de sua vida profissional. “Na Hirano era apenas um trabalho”, ressalta Almir Bindilatti. O Studio era do fotógrafo Windson Borges, uma pessoa solitária, muito talentoso especializado em fusão cromática, ele fazia isto na época da fotografia analógica. Hoje existe software que faz num piscar de olhos. Na época era trabalhoso e exigia habilidade do profissional da fotografia. Windson trabalhava para grandes empresas, e o Almir Bindilatti lembrou que a Honda era uma de suas clientes. Foi um aprendizado essencial. Trabalhou cerca um ano e meio. Foi quando seu amigo Iroã Simões, conterrâneo de Tupã juntamente com outro fotógrafo abriram um Studio no bairro de Pinheiros, em São Paulo e lhes convidaram a fazer parte da equipe. Aceitou e tempos depois o Studio foi para o bairro de Vila Mariana. Disse que os dois sócios eram talentosos, mas a administração da empresa era fraca. Então o nosso personagem decidiu de 1985 a 1986 ir trabalhar em restaurantes em São Paulo como garçom, barman e num deles chegou a gerenciar que foi o charmoso Sabor da Moda, que pertencia a duas jornalistas que trabalhavam na Revista Vogue. Foi quando recebeu em 1986 um convite para organizar o cardápio do Bar Ad Libitium, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, que era um bar e restaurante de propriedade de treze sócios todos músicos de jazz, entre eles Sérgio Benutti,Roni Scott, Mu Brasil, Zeca Freitas e outros. Lá conheceu muita gente e fez um net work muito bom e conheceu um fotógrafo do Rio de Janeiro chamado Henrique e lhe contratou para ser seu assistente. Depois o Henrique decidiu voltar para o Rio de Janeiro. Mas, o Sérgio Benutti que é músico de jazz e também fotógrafo de agência de publicidade e na época era exclusivo da Agência Propeg o convidou para ficar. Para esta foto ao lado “O Menino que Escrevia Sonhos”, que fez em 2008, numa escola em Portoviero, no Equador, o Almir Bindilatti escreveu este poema:”Desenhando as letras/Caligrafando sentidos/Compreensão bordada/A mão, fiel sonhadora. /Ao sabor do/ pensamento/ Sabedoria de Aprendiz/A arte da compreensão/Em alinhavos de ideias./Enquanto o mundo gira /A história dita o tempo / Conhecimento despido/ Fora de qualquer perigo.

Foto 1 -“O Menino que Escrevia Sonhos”, Equador, 2008. Foto 2 – “Um Pedaço do Mundo”, Paraíba. Foto 3 – “Comportamento Estético”, Trancoso-Ba, 2008. Foto 4 – “O Infinito Começa Aqui”, Itália,2018.


Porém tempos depois juntamente com o fotógrafo paulista Élcio Carriço abriram uma empresa de fotografia que passou a funcionar numa casa no Caminho de Árvores, em Salvador. Tinham um Studio grande, bem montado e passaram a atender as empresas de publicidade como a D&E, DM9, Publivendas, dentre outras. Isto durou de 1987 até 1991, quando desfizeram a sociedade. Como tinha feito muitos trabalhos para a Odebrecht que estava montando um núcleo de comunicação para atender as demandas internas continuou atendendo integrando este núcleo da empresa até 2014 fografando para os relatórios corporativos, livros e outras publicações. Paralelo a esta atividade vinha desenvolvendo sua parte de fazer fotografias artísticas, e mesmo quando viajava para a Odebrecht sempre procurava fazer suas fotos particulares. A empresa Criou o prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica Clarival do Prado Valladares e todos os anos premiava um projeto e editava o livro. O prêmio era conferido anualmente a um projeto de pesquisa que tenha contribuído para um maior entendimento da formação econômica, sociopolítica ou artística brasileira. Ele considera este período um salto na sua carreira profissional. ‘Eu fiz um livro A Bahia Vista do Céu, da Editora Corrupio, juntamente com outros fotógrafos”,lembra Bindilatti.

No campo o trabalho começa cedo

Com a chegada da Lava Jato perdeu seu grande cliente que era a Odebrecht e migrou para Portugal passando a fazer a fotografia que sempre queria fazer que é a fotografia autoral, e é o que tem feito inclusive realizando alguns projetos pessoais. Fez uma exposição em Nova Iorque e em outros locais e assim continua tocando sua vida profissional. Quando lhe pedi para falar da arte da fotografia Almir Bindilatti me mostrou um pensamento que ele cunhou que é este: “No que pese a compreensão a fotografia não cumpre a função de elucidar, mas sim de redimensionar o pensamento”. Em seguida mostrou outros escritos e estes versos tudo gira em torno de sua atividade de fotógrafo: Vejamos: “É pelo olho que a vida acontece / O que fingimos o que vigiamos / A indecifrável linguagem da alma / Também nasce do que vemos / Escape do labirinto interior / Instrumento da verdade / Angular apetite da beleza / Carrasco incólume da tristeza. / Todas as lágrimas cabem no olhar/ Todas as vidas se despem ao olhar / Todos os sonhos se inventam de olhar / E nada é real sem que o olhar dê fé / O que vemos extrai tudo o que a nós cega.”

“Manequins a postos”
PRÊMIOS E PUBLICAÇÕES

Entre os prêmios e reconhecimento que recebeu, destacam-se o New York Festival International Advertising Awards, de 1999, do qual foi finalista, e o do concurso Leica Brasil, em que obteve a segunda colocação na categoria Cor, da edição 2010, e Honra ao Mérito nas edições 2007 e 2009; 2023 ganhou o Prêmio da 16ª edição do REFLEX – Prémio de Fotografia CAIS Novo Banco, em Portugal. Em 2012 produziu um extenso material na região do Baixo Sul da Bahia para a exposição individual “Étnico Olhar”, na Fortaleza do Morro de São Paulo, Bahia; 2013, foi um dos convidados para participar da Exposição coletiva de fotógrafos Brasileiros em Xangai, na China; 2022 participa da exposição coletiva da Casa de Castro Alves em Salvador, com o projeto “Distorces”, um conjunto de dez fotografias de temática urbana com recursos de distorção das imagens e é um dos artistas contemplados na terceira edição da New York Latin American Art Triennial , no The Clemente Soto Vélez Cultural & Educational Center, com a exposição “Territory of Absences” um retrato dos costumes e paisagens rurais do sertão brasileiro.

Meninas e uma boneca

Em 2008, publicou juntamente com o fotógrafo Luciano Andrade, o livro Photo Bahia, uma viagem pela vasta cultura humana e natural do estado. Também são de sua autoria as fotos dos livros Mosteiro de São Bento da Bahia (430 anos) organizado por Dom Gregório Paixão e Um Sertão entre Tantos Outros, de autoria de Natália Diniz. Almir Bindilatti participou ainda, como fotógrafo ou editor de imagens, dos seguintes livros “Cinquenta anos de urbanização – Salvador da Bahia século XIX”, de Consuelo Novais Sampaio; História e cultura da Ilha de Tinharé, de Antônio Risério; A Bahia vista do alto, da editora Corrupio; Entre amigos Carybé e Verger, da editora Solesluna ;Igreja e convento de São Francisco da Bahia, de Maria Helena Flexor e Frei Hugo Fragoso; Edgar Santos e a reinvenção da Bahia, de Antônio Risério; 100 fotógrafos focam o Brasil, produzido por Dell’Artes Produções Culturais.

Capa do livro Photo Bahia

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