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Opinião

Cu é lindo em Valente, patrocínio SisalHoje – deixe de preconceito!

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Por Eduardo Frederico

A exposição fotografica “Cu é lindo” foi um escandalo em Salvador tempos atrás. Quase tão complicado quanto se saber que foi patrocinada com verbas públicas.

Discussão importante 

Falar sob a ótica conservadora é fácil para mim. Assim, farei diferente da minha pecha e abrirei espaço para o jornalismo da coluna ME SALTE do jornal Correio da Bahia que tratou o tema de forma antagônica ao sistema. 

A seguir o texto do ME SALTE:

Após fechar as portas por conta de uma manifestação convocada pelo Movimento Brasil Livre (MBL) contra a exposição Cu é Lindo, assinada por Kleper Reis, no último sábado (21), o Goethe-Institut (Instituto Cultural Brasil Alemanha – Icba), localizado no Corredor da Vitória, abriu as portas normalmente nesta segunda (23). Quando cheguei lá (a jornalista do Correio24h), por volta das 11h, o movimento era fraco. “A gente recebe mais gente entre 17h e 21h. É a hora que as pessoas saem do trabalho”, me disse o diretor do Icba, Manfred Stoffl.

Entrando no casarão amarelo, logo à direita, está a mostra. Um letreiro preto com a frase “Cu é Lindo”, em rosa choque, anuncia a sala da exposição, que faz parte do Devires – projeto artístico que propõe um exercício de desnaturalização das relações sociais relacionadas a sexualidades, gênero, visualidade, raça e poder.

Além do nome, em letras garrafais, uma cortina com fuxicos coloridos abre alas para a instalação gratuita do artista de 36 anos, que começou no dia 12 deste mês e segue até dia 12 de agosto. As portas brancas abrem feito janelas, convidando o público a adentrarem naquele universo público-particular. Cheia de fotografias, desenhos, mensagens, colagens e frases, a primeira impressão que tive foi que havia muita informação. Fiquei perdida. Até no chão tinham papéis espalhados e, no centro, garrafas de vidro quebradas e missangas de colares.

Uma monitora, porém, me guiou: “Comece por aqui”, instruiu, acrescentando que poderia lhe perguntar se tivesse qualquer dúvida ao longo do processo. Fiz, então, o caminho no sentido horário. Percebi, ali, que precisaria seguir uma narrativa. Talvez, se tivesse começado por outro ponto qualquer, não entenderia o caminho percorrido pelo artista.

O primeiro conjunto de fotos, à esquerda, mostra um pouco da infância dele. “Juventude adormecida”, escreveu, ao lado das imagens. Apresenta, nesse início, o contexto de sua obra. Filho de militar, ele nasceu no município de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Negro e gay, Kleper sofreu muitas discriminações e violências por conta da sua orientação sexual.

Chama atenção a divisão da história em capítulos e versículos – como na bíblia. Dá para perceber, então, uma clara crítica a fundamentos religiosos radicais e posicionamentos conservadores. A partir daí, mais fotos, cartazes e frases compõem a exposição. Estão aí seus primeiros trabalhos, em que já ressignificava o corpo nu.

As fotos de ferramentas, como martelo e chave de fenda, introduzidas no cu – que vieram logo depois – não chocaram. A sensação que passa é que aquilo me pareceu muito pequeno, perto do que ele passou – as fotos foram feitas como resposta à uma série de violências físicas que o artista sofreu entre 2012 e 2017. A dor era outra.

Entre um desenho e outro, Boletins de Ocorrência (BO) revelam algumas das situações que ele vivenciou. Todos crimes de origem homofóbica. Doeu muito mais, pensei. Com lágrimas nos olhos, me dei conta que os papéis espalhados pelo chão eram todos de denúncias de crimes de origem homofóbica. Como não olhei antes? Me questionei. “O buraco é muito mais embaixo”, ecoou em minha mente.

Depois, também há frases religiosas e até um ebó. Fotos dele praticando yoga se misturam com espelhos, que nos fazem questionar sobre o nosso papel diante disso tudo: “Voltar ao passado para ressignificar o presente e o futuro”, li, ali no meio. A essa altura, os pênis e ‘cus’, que aparecem em outras cenas de formas mais discretas, já estão mais que naturalizados. Nem mesmo uma animação, com várias pessoas mostrando o ânus, em uma TV grande, chocou.

Uma foto maior – dele usando um facão apoiado no ânus – talvez seja a que mais impressiona. Uma flor, no mesmo cu, em outra imagem, bem perto, ressignifica o papel do ânus. “Tudo isso faz parte do processo de cura”, me disse a monitora, que pontuava informações importantes ao longo da minha jornada.

Mais adiante, um conjunto de fotos com a frase “Cu é lindo” mostra as proporções que esse movimento tomou. Segundo a monitora, boa parte delas foram enviadas para ele por pessoas que também se apropriaram daquela luta. Ou seja: ele não está só. Juntas, as fotos formam uma lágrima. Terremoto de resistência?

As fotos que finalizam esse processo envolvem o artista e um parceiro. Eles se abraçam, dormem juntos e se amam. “Cu é cura”, escreveu. Naquele momento, tudo me pareceu o fim de um grande desabafo cheio de significados e metáforas. Ao mesmo tempo em que questiona padrões e tabus da sociedade – como a repulsa ao corpo nu e a associação do cu a algo ruim ou sujo – Kleper expõe a emoção de lidar com a censura, as memórias das violências e dos espancamentos sofridos. Também mostra as discriminações e os preconceitos sociais, as imagens do inconsciente por meio da arte.

Assim como ocorreu com outras exposições de cunho artístico reflexivo sexual, tanto em Salvador quanto em outras cidades brasileiras nas mostras La Bête e Queermuseu, Cu é Lindo – que discute justamente a liberdade da diversidade de corpos existentes – está dando o que falar, seja pelo seu título polêmico ou pelas imagens, que retratam de forma crua o corpo humano.

“Ninguém é obrigado a ver a exposição”, destacou Manfred. Como amplamente divulgado nos canais da mostra, nas comunicações sobre ela e no local, a mostra tem classificação indicativa de 18 anos. Só na porta, são quatro avisos quanto ao cunho do trabalho.

Logo na saída, encontrei a agente de saúde Danusa Sousa, 47. Apesar de garantir que não acha ânus, em geral, bonitos, ela disse que achou a exposição interessante. “Ouvi na rádio, estava passando aqui perto e resolvi parar para ver. Não vi nada demais. Talvez, para uma família tradicional, seja chocante, porque entra em questões de tradição e nos padrões e tabus, que estamos acostumados. Desde pequenos a gente vê o negócio como algo sujo, feio e até o próprio sexo como algo sem pudos”, destacou.

Wemerson Prazeres, 23, estudante de artes visuais, por sua vez, chegou assim que eu estava saindo, por volta de 12h20. “Vim porque sei que é uma afronta. Ultimamente, com o cenário atual conservador, é preciso falar sobre o nosso corpo e questionar padrões. Essa exposição é apenas um pequeno passo pra gente avançar”, opinou.

Ao contrário do que muita gente tem espalhado por aí, Cu é Lindo não tem apoio financeiro direto a ela. Segundo o Goethe, o custo total é de R$ 1 mil, incluindo frete de transporte, impressões, materiais, montagem e desmontagem da exposição, o que representa 0,7% do investimento total do projeto Devires.

Mas, enquanto jornalista, ressalto que, enquanto a arte não mexer com sua liberdade e com seus direitos individuais, ela é legítima. Importante ressaltar também que cada indivíduo faz do cu o que bem entende. Vale a reflexão: que tal olhar para o cu de forma menos pejorativa e mais natural?

Em nota, o Goethe-Institut ressalta que o projeto propõe um exercício de desnaturalização das relações entre sexo, gênero, visualidade, raça e poder: “Em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender. Respeitamos todas as crenças, manifestações e liberdade de expressão. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90 países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta o debate, participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão. Continuaremos com nossos esforços de incentivo à discussão e ao intercâmbio entre culturas, visões artísticas e diferentes formas do pensar. Continuamos a acreditar que a melhor forma de lutar contra a intolerância é a educação e a promoção do diálogo”, afirmou o Icba, por nota.

Devires
Devires é um projeto artístico que propõe um exercício de desnaturalização das relações sociais relacionadas a sexualidades, gênero, visualidade, raça e poder. Reunindo artistas da Bahia, de outros estados e de fora do país, o evento apresenta performances, exposição, mesas de debate, oficinas e outras atividades correlatas, na abordagem de questões que censuram a liberdade da diversidade de corpos existentes. Devires acontece em três etapas: de 12 a 17 de julho, de 9 a 11 de agosto e de 27 a 29 de setembro, no Goethe-Institut Salvador-Bahia.

Contemplado pelo Edital de Dinamização de Espaços Culturais, tendo apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia, “Devires” tem orçamento total, para todas suas etapas, trabalhos artísticos e infraestrutura, de R$ 131 mil, conforme aprovado no edital público, mecanismo democrático de fomento a práticas artístico-culturais de toda a Bahia.

Em sua primeira edição, a mostra teve início no dia 12 de julho e segue com diversas atividades em Salvador até o dia 12 de agosto, das 9h às 19h, com entrada gratuita e com classificação de 18 anos.

SisalHoje tentou trazer a exposição Cu é lindo para Valente logo após finalizada na capital. Será que consegue ainda em 2024 com tanta gente liberal agora?

Será que os liberais que tanto criticam o conservadorismo de Eduardo Frederico vão se mostrar e ajudar desta vez?

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