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Opinião

Dia Internacional da Mulher: um convite a reflexão

Cleber Silva

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Por Cléber Silva. Estudante de Direito – Faresi

No Dia Internacional da Mulher, 08 de março, é sobretudo um momento para instigar a reflexão, tão escassa nos tempos líquidos de Bauman. A principal pergunta que ouço e muitas vezes já fiz como radialista é: temos algo a comemorar? Sem dúvida alguma, poderia afirmar. Afinal, hoje a mulher é vista como pessoa sujeita de direitos, o que é um avanço imensurável. Houve tempos em que a mulher sequer era ouvida nas relações de poder familiar (Foucault), que dirá votar. Pode comemorar que a violência doméstica foi tipificada de forma mais severa com a Lei Maria da Penha, mesmo que a mulher continue sendo violentada todos os dias pelas diversas formas de violência, seja psicológica, patrimonial, física, moral e sexual. E sei que a cara leitora deve ter uma centena de exemplos de possíveis avanços.

Mas vivemos em um mundo de consumo desenfreado. Onde o grande irmão narrado pelo escritor inglês George Orwell, no livro 1984, narra através de uma sátira a vigilância governamental onipresente do Estado e as  perversões que uma economia centralizada está sujeita. A lógica consumerista desenfreada do capitalismo te pegou e me pegou. Somos vigiados por algoritmos escritos para coletar dados para conhecer os seus desejos mais íntimos, mesmo aqueles não revelados à pessoa mais íntima, para te entregar os teus desejos em forma de produtos a serem consumidos. Você fala na vontade de fazer uma viagem e jorra propaganda na sua tela, como se adivinhassem seus pensamentos e suas vontades.

Os menos críticos talvez gostem dessa “facilidade” disfarçada de controle nos tempos atuais. Controle os desejos e controle às pessoas. Poderia citar muitos exemplos aqui, mas creio que o manifesto de Jeron Lenier é mais eficaz em Dez Argumentos Para Você Deletar Agora as Redes Sociais para explicar o novo modelo de negócio no mercado de propagandas com efeitos degradantes do ser humano, seja mexer com o livre-arbítrio, aguçar emoções negativas, ou promover a distorção da percepção da verdade, além de dezenas de exemplos que o livro traz.

Há uma infindável lista de símbolos “apropriados” pelo capitalismo consumista. Só para ficar num exemplo do Papai Noel que a Coca-Cola se apoderou e resignificou toda uma iconografia e mitologia associada a uma marca, manipulando as práticas populares de consumo pela resposta emocional a símbolos e sons, reproduzindo uma temerária antropofagia da interação consumerista. E assim nasce um produto nocivo associado à família, felicidade e presente. 

Agora, vejo de forma temerária discursos como: “no Dia Internacional da Mulher não quero saber de luta, quero bombons, flores, presentes de todo tipo”. Olha aí o consumismo corrompendo um símbolo e aprisionando mentes. Nunca a Matrix foi tão real. Todo dia é dia de sustentar uma narrativa, mas o dia 08 de Março é dia de reflexão sobre a liberdade e igualdade social das mulheres. A data foi marcada pela entrada das mulheres no operariado e seu sangue  derramado na luta para se ter as conquistas de hoje.  As mulheres que carregam um histórico de silenciamento, podem ser silenciadas ou terem seu discurso amenizado. Um discurso que tenta forjar a força revolucionária das mulheres ao nível do discurso vazio maquiado da revista Claudia, do tipo Banco Itaú ao melhor estilo de uma florzinha para você e é só isso. É, verdadeiramente, só isso?

O IBGE aponta que as Mulheres dedicam 21 horas semanais nas tarefas domésticas e familiares. O dobro do tempo dos homens. Ainda trabalham e ganham bem menos que os homens. A tarefa não é fácil. Há muito pelo que lutar. As mulheres têm que construir uma cultura da porta de casa para dentro e da porta de casa para fora.

Que sejam bem-vindos os chocolates, flores e todo tipo de presentes, mas não esqueçam que, no calendário e na vida, o Dia Internacional das mulheres é mais um dia de luta, de resistência. Não lembro onde li. Mas guardei para o final: “que o Dia Internacional da Mulher seja um lembrete de que cada passo em direção à liberdade e igualdade social é uma vitória, mas a jornada é longa e nossa luta não termina com o pôr do sol – ela renasce como que a fênix das cinzas com cada amanhecer, incansável e resiliente como a própria essência feminina.”

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