Connect with us
Banner do Site

Opinião

Eleição passa e tudo passa…

Avatar

Published

on

Por Eduardo Frederico, em 20 de maio de 2016

Eu desde criança vejo e converso com espíritos. Diferentemente dos filmes onde ganham aparências bizarras, flutuam ou são cobertos por lençóis, os meus fantasmas são pessoas com aparências normais. Na última terça-feira , assim que cheguei em casa da faculdade, eu me joguei na cama para descansar e peguei no sono. Fui despertado por uma voz vinda da rua chamando meu nome. Fui até a janela e, mesmo sem óculos, vi uma jovem acenando e dizendo que queria falar comigo. A voz era conhecida e quando disse que era Lais eu resolvi descer e encontrá-la, pois tenho uma amiga de muitos anos com este nome e imaginei ser ela. Já de óculos me dirigi até a porta e antes de abri-la percebi que Lais já estava sentada no pufe que fica ao lado da minha cama e sorrindo de forma singela. “Oi, Zero…”, disse ela, me chamando pelo apelido dos tempos do curso de inglês UEC. 

Em milésimos de segundos percebi que ela ainda tinha 18 anos – a mesma idade de quando a vi pela última vez – e não os +/- 40 da nossa geração. Suas próximas palavras foram uma resposta a este meu pensamento: “Nossos tempos caminham diferentes! Seria impossível me ver com mais um ano que eu não tive”, disse. 

  O enorme espelho na parede me refletia de forma dolorosa quando eu me comparava com aquele alguém do meu tempo à minha frente.

  Queimando o gelo do inesperado, Lais diz a que veio: “Quero que você escreva uma carta para Romeu”. Em seguida me explicou que perto do ano 2000, enquanto estudávamos no UEC, ela conheceu um rapaz chamado Romeu que se apaixonou por ela, porém ela tinha namorado. Mas, a delicadeza, o carinho e a atenção dele a conquistaram. O problema foi o namorado dela que não aceitava o término e inclusive ameaçava se matar ou coisa pior caso ela terminasse. 

  O semestre terminou e Lais ainda se via presa ao namorado, sem conseguir se libertar. Já Romeu esperou por Lais a manhã toda, no último dia de aula, para entregar-lhe um envelope. Dentro, uma flor amassada e uma linda carta explicando que iria viajar de volta para o interior onde moravam seus pais – pois começara suas férias, mas que no mês seguinte estaria de volta para quem sabe ouvir um sim de sua amada. Depois foram dezenas de declarações de amor e sonhos. Numa folha separada estava um doce exagero, desnecessário e ao mesmo tempo marcante. Romeu escreveu mil vezes a frase: “Eu vou te amar pra sempre, no além-vida!”

   Assim que terminou de ditar a carta, Lais olhou fixamente nos meus olhos e saiu em direção à sala onde minha mãe dormia no sofá. Corri para não assustá-la, só que a porta escolhida por Lais não dava em nenhum lugar que enxergamos e ela desapareceu no escuro do corredor.

  Com a carta na mão e sem saber como entregá-la a Romeu, pois só o conheci de vista, além de já terem se passado quase 20 anos. Só me restou postá-la aqui:

De Laís para Romeu, com amor

Romeuzinho,

Para você já se passou muito tempo e para mim foi um nada. Quando relutei tantas vezes, lá atrás, eu acreditava que teríamos todo o tempo do mundo. Acreditava realmente, com toda certeza do mundo. Quero que saiba que li aquela carta todos os dias daquelas férias. Li tanto que cada letra e cada sinal se tatuaram em mim. Meu relógio passou a trabalhar numa escala decrescente para o começo das aulas por sua causa. Fiz tantos planos! Fui além de alguns simples encontros ou festinhas de adolescentes. Casamos, tivemos filhos e netos. Trouxe para o meu sonho aquele seu sonho de fazermos um piquenique na beira do lago e de criar figuras com as estrelas no céu.

  Mas, eu não voltei daquelas férias…

  Aquele meu namorado cumpriu as promessas… ele achava que ficaríamos juntos para sempre.

  Foi tolo, pois agora estamos em lugares diferentes….

  Nós três…

  Te amo, do além-vida!

  Lais

Advertisement
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Copyright © 2023 Sisal Hoje, Criado em WordPress.