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Artes Visuais

SÉRGIO VELLOSO E SUA ARTE QUE VENCE O TEMPO

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Estávamos no final dos anos 60 quando apareceu nos vernissagens um jovem de cabelos longos, magro e refinado. Era uma espécie de dândi que gostava de curtir todo aquele clima efervescente que vivíamos nas noites baianas e no vibrante ambiente cultural que nos ofereciam a oportunidade e opções de estar presentes em duas ou mais exposições todas as semanas. Existiam até alguns grupos, verdadeiras tribos, que sempre estavam presentes com seus visuais distintos aproveitando para jogar conversa fora, encontrar os amigos, bebericar e comer os salgadinhos dos coquetéis. Os vernissages eram acontecimentos sociais abertos para todos, ou seja, lá se encontravam socialites, pessoas simples e os estudantes em busca de informações e divertimento. O nosso personagem era amigo do pintor Carlos Bastos que sempre marcava sua presença sendo um dos primeiros a chegar todas às vezes que o Sérgio Velloso ia fazer uma nova exposição. Na época Carlos Bastos era um dos nomes mais requisitados nas reuniões sociais da elite e um pintor consagrado. Aliás, é bom salientar que a obra de Carlos Bastos é grandiosa, porque além de ser um grande desenhista é um pintor de primeira linha. O mercado de arte baiano e brasileiro ainda vão reavaliar este legado que Carlos Bastos deixou especialmente por ter sido um dos modernistas que contribuiu para a evolução da arte em nosso país com obras de alta qualidade técnica e de composição.

Obra Ouriços e Centopeias, de  1991, que Sérgio Velloso expôs na Lapa

O artista Sérgio Velloso além de  fazer  exposições individuais e participar de muitas coletivas fez em 1983 a decoração do Baile dos Artistas , no Teatro Gregório de Matos , clubes sociais e foi até guia turístico da Bahiatursa. Era um jovem cheio de energia que trabalhava e se divertia com a intensidade de sua juventude. Ele lembrou da amizade com Jacy Brito, proprietária da Galeria O Cavalete que era uma mulher elegante  à frente do seu tempo. Gostava de fumar seu cigarro usando uma piteira,usar joias  e de beber vinho, frequentar a noite , mas tudo com moderação. Era criteriosa na escolha das obras para expor em sua Galeria O Cavalete. De segunda à quinta-feira o grupo ia ao  Bistrô do Luís ou para o Extudo. Eles não gostavam de frequentar nos finais de semana porque esses locais ficavam muito cheios, disse Sérgio Velloso. Neste período também chegou a ministrar aulas na Panorama Galeria de Arte quando funcionava no Jardim Brasil e depois foi transferida para o bairro da Fazenda Garcia. Tem saudades deste tempo da convivência com os amigos e alunos e fez questão de dizer que não ensinava a copiar uma paisagem ou um objeto. “Não, eu incentivava os alunos a criar. Alguns ficavam receosos, mas com o passar do tempo criavam suas próprias pinturas. Ensinava a fazer perspectivas, o volume e assim desenvolviam mais rapidamente.”

Sérgio Velloso, Carlos Bastos e Elide Gaban no Museu da Cidade

O REENCONTRO

Agora tive o prazer de reencontrar o Sérgio Velloso com aquele seu jeito terno de conversar e disposto a falar sobre sua trajetória desde o final dos anos sessenta até hoje. Impressionante constatar  a força da arte nas pessoas que fazem e gostam ou são atraídas para este universo mágico que até é difícil de  traduzir em palavras. O Sérgio Velloso lembrou que depois deste período vibrante e culturalmente rico a Bahia passou por um vazio cultural.  É verdade, inclusive o crítico Geraldo Edson de Andrade, de saudosa memória, chegou a registrar num artigo datado de 1979 o vazio que a Bahia estava vivendo após a realização em Salvador da II Bienal Nacional de Artes Plásticas, no Museu do Convento do Carmo.  Este vazio se estendeu por algumas décadas e diante desta situação o artista foi trabalhar e estudar em outros segmentos como a decoração. Em 2003 fez o curso de Gestão em Moda e Design, na UNIFACS, quando foi convidado para ministrar aulas da disciplina Expressão Bidimensional, no curso de Moda, e lá permaneceu por dois anos. A partir daí teve que se afastar por não possuir a titulação de pós graduado, como o Ministério da Educação passou a exirgir da instituição . Então fez a pós em Docência do Ensino Superior, mas quando retornou a vaga já estava preenchida por outro profissional.

Obra da exposição Noturno, na Galeria O Cavalete , 1982. Na época a galeria funcionava no Clube Baiano de Tênis

Mas, Sérgio Velloso continuou  envolvido com sua arte, suas pinturas , desenhos trabalhando e criando estampas exclusivas para coleções de moda, feitas no computador com as ferramentas que aprendeu a utilizar no Curso de Moda. Criou também modelos usando desenhos autorais para fazer os croquis manualmente. Paralelo à essa incursão no universo da moda, continuou pintando, desenhando, fazendo artesanato, oratórios, mandalas e outros objetos decorativos para comercializar em feiras de artesanato. Também nesse período   trabalhou no cerimonial Rosa Amarela decorando igrejas e salões para grandes eventos e que gostava muito do que fazia, ao lado de Luisinho Bastos, sobrinho de Carlos Bastos. “Gosto de trabalhar com arte, sou um artista consciente das minhas limitações e qualidades. Embora fora do universo das exposições e galerias, prossigo trabalhando no que me dá prazer, no meu ritmo e da forma que me agrada.  Como disse Caetano numa de suas composições: “Respeito muito minhas lágrimas, e ainda mais minhas risadas…”   Vemos ao lado um autorretrato do artista obra que integra o seu acervo particular que ele pintou em placa de compensado depois de visitar a exposição  do amigo   Carlos Bastos no foyer do Teatro Castro Alves. 

Ele sempre utilizou cores mais tênues ,  suaves

Uma característica de Sérgio Velloso é que ele ousa. Nos anos que pintava palhaços e arlequins de repente resolveu em 1991 pintar abstratos e foi expor seus trabalhos no mezanino da Estação da Lapa. Portanto, num local e ambiente completamente díspare do que ele estava acostumado a mostrar a sua produção de arte. Foi ao encontro da gente comum que batalha diariamente em busca da sobrevivência e chega à Estação da Lapa com pressa para tomar o ônibus e chegar em suas casas. O artista  Sérgio Velloso contratou um saxofonista e na hora do rush o músico saía tocando percorrendo a estação de passageiros e muitas pessoas ao invés de tomar os ônibus seguiam o músico até o local onde estava a exposição. O ambiente também chamava a atenção por estar bem  iluminado e com as obras dispostas estrategicamente. Ficavam por ali apreciando aquelas obras abstratas e depois seguiam seu caminho.  Já em 1994  participou da exposição de inauguração da Galeria Abaporu, no Largo do Pelourinho. Em 1978 expôs no Museu da Cidade, localizado do Pelourinho, o qual foi fechado na administração do ACM Neto , ele contratou um palhaço que ficava na frente das lojas na Baixa dos Sapateiros. O palhaço com uma corneta chamava os transeuntes para ver a exposição e foi um sucesso na época.

Sérgio Velloso  com a colunista July Isensée e a atriz Nilda Spencer.

Depois deste período  muitas galerias e espaços alternativos fecharam em Salvador e no interior do Estado. Lembra Sérgio Velloso que quando fazia uma exposição sempre vendia de trinta a quarenta obras e isto lhe dava uma tranquilidade financeira para continuar criando. “Depois de pagar todas as despesas com os materiais, molduras e do vernissage ainda dispunha de dinheiro para viajar e fazer outras coisas que gosto. Me considero um bon vivant e assim curti a vida como deveria por algumas décadas. Atualmente continuo pintando e acho que meu trabalho evoluiu do ponto de vista da composição, temática e técnica, mas não temos a facilidade daquela época que existiam muitas galerias e outros espaços alternativos para a gente expor e comercializar nossas obras. Sempre estou postando no Instagram para que as pessoas vejam que continuo produzindo”. 

Obra  recente do artista

QUEM É

O Sérgio Velloso Silva é filho de Nivaldo Machado da Silva e Maria da Conceição Velloso Silva. Nasceu em Salvador no dia 28 de agosto de 1954. O pai trabalhava na Souza Cruz que era uma indústria fumageira que fabricava os principiais cigarros vendidos na época, e posteriormente foi para a Assembleia Legislativa onde se aposentou no cargo de tesoureiro. O artista Sérgio Velloso fez o primário no Educandário São Vicente, localizado no bairro do Bonfim e o admissão para o Colégio da Vila Militar. Em seguida estudou no Colégio Ipiranga onde terminou o colegial. Mas, antes de fazer o vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, a partir de 1972 frequentou alguns cursos livres até completar a idade permitida para prestar o vestibular. Neste período disse  “tive professores maravilhosos como Hansen Bahia, Riolan Coutinho, Juarez Paraíso, Herbert Magalhães, Aylton Lima, dentre outros. Os professores levavam para fazer trabalhos nos arredores da Escola e até mesmo no Campo Grande. Assim ele foi ficando e no final do ano tinha uma feira dos principais trabalhos feitos pelos alunos que eram expostos em frente ao prédio da escola e atraía muita gente inclusive de fora que vinha adquirir obras a preços mais acessíveis. Confessa que admirava muito o trabalho de Hansen Bahia e também de Ilse, a esposa do Hansen, e que chegou a visitá-los em Cachoeira-São Félix. Já em 1977 prestou vestibular e passou a frequentar as aulas. Confessa que foi um período profícuo e que aprendeu muito. Demorei na Escola, ficava protelando me formar, e me perguntava:Formar pra quê? A dificuldade do iniciante era e ainda é de organizar e fazer uma exposição num bom espaço e começar a entrar no mercado de arte. O sonho é fazer exposições com regularidade e estar sendo convidado por donos de galerias.  Hoje está  ainda mais difícil o mercado está restrito a poucas galerias que só promovem exposições de artistas já consagrados daqui e de outros estados.” Acrescento que também os museus estão sendo administrados  por pessoas ligadas à política woke e só expõem obras de artistas do espectro político de esquerda ou de extrema esquerda.

Arlequins pintados pelo artista

EXPOSIÇÕES

INDIVIDUAIS – 1976 – Panorama Galeria de Arte, Salvador-Ba; 1978- Exposição no Museu da Cidade, Salvador-Ba; 1979 – Exposição na Galeria O Cavalete; Exposição na Galeria Álvaro Santos, Aracaju-SE; 1980 – Exposição na Panorama Galeria de Arte; 1982 – Exposição da Galeria O Cavalete, no Clube Bahiano de Thenis, Salvador-Ba; 1986 – Exposição da Galeria O Cavalete, Salvador- Bahia; Exposição no Salvador Praia Hotel; 1991 – Exposição Abertura do Verão, no Hotel Meridian, Salvador-Ba; Exposição no Mezanino da Estação da Lapa, Salvador-Ba. 

Obra que ilustrou capa do catálogo da mostra Metrópoles, na Galeria O Cavalete, que funcionava  no Salvador Praia Hotel

COLETIVAS – 1972- Festival de Arte Jovem- Escola de Belas Artes da UFBa; 1973- Salão de Estreantes – Panorama Galeria de Arte; 1974- Panorama Galeria de Arte; 1975- Exposição na L.R. Turismo, na Villa da Barra;  Três Pintores, Três Estilos, na Panorama Galeria de Arte, Salvador-Ba; Exposição na Galeria Portas do Carmo, Salvador-Ba; Exposição na Galeria da Barra, Salvador-Ba; Exposição de Minitelas na Galeria O Cavalete, Salvador-Ba; 1976 –  Participação no Festival de Inverno, Cachoeira-Bahia ,  Museu Amanda Costa Pinto; Exposição no XVIII Congresso de Engenharia Estrutural da América Latina-BA; Exposição na  1ª Feira de Arte da Galeria  O Cavalete, Salvador-Ba; 1977- Participação no 1.° Salão de Verão, na  Pousada do Carmo; Participação no Salão da Prefeitura de Santo Amaro-BA ;  Participação na  EXPOEMA, na  Galeria de Arte do Senac, Salvador-Ba;  Participação na  II Feira de Arte da Galeria O Cavalete, Salvador-Ba; 1978 –  Participação da Exposição no  1.° Encontro de Arte da  FUNCISA no Museu de Arte da Bahia, quando recebeu a Medalha de Menção Honrosa; Exposição Freiras , na Galeria O Cavalete; Exposição na Galeria Eucat Expo, Salvador-Ba; Exposição na Galeria O Cavalete; 13ª  Mostra de Arte da AGTEB, no Salvador Praia Hotel-BA; Exposição na  Biblioteca Central dos Barris, Salvador-BA; 1980 – Exposição Arte Bahia/80, na Galeria O Cavalete;   1981- Coletiva da Primavera na Panorama Galeria de Arte;  Participação no  X Festival de Arte de São Cristóvão, Sergipe; 1982 – Exposição de Artistas Plásticos Contemporâneos no IV Encontro Monástico Latino Americano, no  Retiro São Francisco, Salvador-Ba;  Exposição no Centro Integrado de Artes da Bahia – CIAB, Salvador-Ba;  1983 – Exposição de  Minitelas no Shopping Boulevard, Salvador-Ba; Exposição no  Circuito de Artes Plásticas do Nordeste, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; 1984 – Lançamento do Catálogo do Acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; 1988 – Exposição A Criança na Visão do Adulto, no foyer  do Teatro Castro Alves ; Exposição Solidariedade em benefício do GAPA, no Shopping Iguatemi; 1992 – Coletiva – Galeria do Othon Palace , Fortaleza – CE ; 1994 – Coletiva NR Galeria – Salvador-BA ; Exposição de Inauguração da Galeria Abaporu, Largo do Pelourinho, Salvador-Ba; 1999 – Coletiva- Tropical Hotel da Bahia – Salvador-BA ; 2001 – Coletiva – Forte de Santa Maria – Farol da Barra,Salvador-Ba.

Obra pertence ao acervo do MAM-Ba

OBRAS EM MUSEUS E ACERVO – Museu da Cidade – Salvador-Ba; Museu de Arte Moderna da Bahia; Salvador-Ba e no Mosteiro de São Bento, Salvador- Ba.

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